
É sempre mais fácil enfiar o dedo na cara do outro quando não somos capazes de nos responsabilizarmos pela parte que nos cabe na desgraça que nos assola a todas e todos. É sempre mais fácil tirar o corpo fora e dizer “eu avisei” ou “se ferir minha existência serei resistência” quando o sangue não respinga na imaculada camisa do “eu”. É lamentável ver mais um corpo cair porque não fomos capazes de enfrentar aqueles que nos ameaçaram e que por nossa resistência lacradora limitada às notas de repúdio e micaretas sabadescas se vêem encorajados para transformarem suas ameaças em atitudes violentas, assassinas.
Todas e todos temos responsabilidade na morte de cada um daqueles e daquelas que morreram de fome, de frio, de covid, de tiro, de gás, de desespero, a partir do momento que preferimos esperar por um salvador – para mais uma vez termos em quem botar a culpa e lavarmos nossas mãos – e deixamos as ruas vazias para o fascismo desfilar livremente com seu ódio ungido pelo deus acima de tudo.
Meus sinceros pêsames à família de Marcelo Arruda.
Não é só sobre o que eles fazem, mas sobre o que deixamos eles fazerem.
Rua vazia é avenida pra fascista.

Obrigado!