
No dia Internacional da Democracia celebra-se também o Dia do Cliente, nos lembrando que vivemos em uma sociedade consumista que faz das tripas coração para golpear até a morte, se necessário for, qualquer forma de obstrução à liberdade de consumo, tudo protegido pela divina lei do bolso cheio do patrão, amém.
Não contentes em consumir o produto material e imaterial do próprio labor – suado, chorado, sangrado – consumimos a nós mesmos, enlatamos nossas culturas, colorimos nossas liberdades com as cores da lucrativa lacração, distorcemos a verdade, a mentira, a realidade, a existência e, féstifudicamente, nos devoramos diante do espelho que nos glorifica, endeusa, beatifica, esse espelho que hoje cabe em nossas mãos, que solidifica o embrutecimento líquido das relações humanas, cujo preço é barato demais – por vezes, até gratuito – para ser consumido pelos altos padrões exigidos pelos olhos famintos cheios de dedos lustrosos da serpente que nos engole, bit por bit, em velocidade luz, enquanto rasteja sinuosa no árido chão que teimamos em regar com a saliva que lubrifica a próxima mordida…
Como podemos cuidar de algo que não compreendemos em sua totalidade, quando todas as tentativas de se alcançar tal compreensão pela ampla maioria é decepada na raiz pelo braço forte e muito bem nutrido daqueles e daquelas que a permitem dentro de limites que não cessem o transbordamento hemorrágico de seus bolsos? A clientela, portanto, tem muito a celebrar os sucessivos golpes contra a democracia. A democracia, por sua vez, queima e continuará queimando, ruindo até as cinzas, a fim de ser levada pelo pestilento sopro do fascismo travestido de bom moço para longe, bem longe, muito longe, até o esquecimento.

Obrigado!