
Em casa, no transporte público, na rua, a verdadeira “Girl from Rio” é alvo, alve, alvi, alvu – nunca será alva – do vírus eugenista que metralha, asfixia, mata de fome, tortura, demanda de sacrifícios do insaciável deus capital, amém.
Vidas negras importam? Quais vidas negras importam? A vidas negras que importamos dos noticiários estrangeiros que estampam as camisetas e as boas intenções do liberalismo individualista ou as que são assassinadas todos os dias aqui em nosso berço esplêndido? Quais vidas negras importam? As vidas negras descartáveis que inundam de sangue as vielas, as que não conseguem respirar sem leitos de UTI, que lotam coletivos do transporte público em todo o Brasil em meio à pandemia para que a engrenagem que enriquece os ricos nunca pare? As vidas negras que são perseguidas entre as gôndolas dos supermercados? As vidas negras violentadas e mortas diariamente pelas polícias fascistas a serviço dos brancos? Quais vidas negras importam? As que objetificam corpos para alçar o topo? As que se degladiam entre si na tevê para deleite de toda uma estrutura racista sustentada por discursos antirracistas rasos de empoderamento, de superação, de prosperidade material, de liberdade de consumo, que são cuspidos em suas caras pela falácia da democracia racial? Quais vidas negras importam, afinal?
Não existe capitalismo sem racismo, sem desigualdade social, sem violência policial, sem fome, sem miséria, sem fascismo.
Nunca vai ferir a existência. Nunca será resistência.
Ilustração digital sobre foto de Brenno Carvalho.