
Em 2 de abril de 1964, o Congresso Nacional declarou vaga a Presidência da República, vítima de um golpe de estado civil-militar-midiático-jurídico-parlamentar, depondo o presidente João Goulart, cuja aprovação de medidas populares, como a reforma agrária, era muito superior ao desejo das elites eugenistas vira-latas de lamber o chão dos EUA. Não demorou, e o Congresso Nacional foi fechado pelos militares, sendo perseguidos, muitos torturados e mortos, alguns desaparecidos até hoje. Um dia antes, no editorial de 1º de abril de 1964, o jornal O Globo comemorava o “ressurgimento da democracia” graças às Forças Armadas, que livraram o país dos perigos do comunismo, amém.
No dia 2 de setembro de 2013, o Jornal Nacional se desculpou parcialmente por ter apoiado o golpe. Parcialmente, pois mencionou apenas o apoio editorial, não o apoio midiático, financiado pelas gordas verbas publicitárias. Agora, vítima do ovo de cobra peçonhenta que botou, a Globo é odiada pelo governo do genocidíssimo Jair Bolsonaro. Faz cara de coitada como se seu antipetismo crônico não tivesse feito do golpe de 2016 um espetáculo cinematográfico; ou se a prisão do ex-presidente Lula – perpetrada pelo herói inflável, Sergio Moro –, não fosse o plano para tirá-lo das eleições de 2018, e tentar eleger um dos queridinhos branquinhos cheirosos da elite. Não conseguiu. Apoiou o primeiro da fila, pfiu, pfiu.
Mas a Globo conta com a memória do povo, que não esquece personagens de novela, participantes do BBB, nem lances incríveis de futebol. Fomos doutrinados para odiar a política e deixá-la nas mãos da classe dominante enquanto, cativos, consumimos seus enlatados. Para ela, o golpe precisa voltar aos trilhos. Por isso, insiste na narrativa anticorrupção de seus paladinos da justiça. Seu partido é a elite. Não têm projeto para a nação, exceto o de dar continuidade ao golpe, ao domínio das classes eugenistas e à cultura vira-lata.
Negar a participação da Globo nos eventos que mataram pessoas e direitos, ontem e hoje, também é negacionismo.