“E aí?” ou “E daí?”

E aí? As barbaridades genocídicas do execrabilíssimo presidente Jair Bolsonaro já feriram a sua existência o suficiente para você ser resistência, Brasil, ops, Brazil? Ainda não, né. Tem um tiquinho aqui outro ali de retalhos e estilhaços espalhados pela face vira-lata da sua existência o bastante para colar tudo e fazer uma película protetora com cruz, credo, cor – a mais clara possível, claro! –, gênero, classe social, uma raspa da conta bancária dividida em prestações a juros módicos e a perder de vista e pronto! Relaxe, você está individualisticamente protegida-de-di-do-du e apta-te-ti-to-tu para tolerar sem ser molestada-de-di-do-du por questões morais e éticas mais uma boa saraivada de ameaças à vida alheia, “esse negócio de política cansa”, “já não aguento mais esse país”, “vou ali ver eliminar alguém no bbb”, taoquei.

Hoje, no dia em que Bolsonaro foi ao YouTube pregar contra o uso de máscaras e pressionar governadores e prefeitos para não adotarem medidas restritivas que fechem o comércio e prejudiquem a economia, o país registrou 1582 mortes em 24 horas, sendo esse, até o momento, o dia em que mais morreram pessoas vítimas de covid-19 em um ano. 251.661 mil mortos ainda não é o bastante para a turma que não ia soltar a mão de ninguém, muito menos pra turma que tão bravamente, com o cenho fechado, como cara de revolucionário enlatado da sessão da tarde, espalhou nas redes sociais que se ferisse sua existência, seria resistência. Ora, como ainda não respingou morte, desempregados, fome, miséria, violência, desprezo, descaso em nenhum deles, então, tá tudo certo. É só buzinar na avenida no fim de semana que o fascismo cai. Nada disso vai ferir toda uma existência moldada no individualismo e no preconceito de classe o suficiente para quebrar o espelho.

Somos cúmplices de genocídio.